"O som não permanece neste mundo; ele desaparece no silêncio."
Daniel Barenboim

sábado, 28 de agosto de 2010

MUDANÇA DE ENDEREÇO

ESTOU MUDANDO DE ENDEREÇO E GOSTARIA DE VÊ-LOS POR LÁ. www.tocadopaulo.wordpress.com

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

POESIA

Dizer o que? Foto de Ansel Adams.

domingo, 25 de julho de 2010

FIM DE SEQUESTRO

Desde o dia de ontem por volta das 17:30, minha mulher e eu vivemos momentos de sequestro. Nos fundos de nosso prédio há um estacionamento que serve a uma escola de natação. Esse estacionamento foi utilizado para uma festa que varou a madrugada, nosso sossego e ouvidos. Acordo lá pelas duas da manhã e não consigo mais dormir até ver o sol raiar. Ouço todas as conversas do povinho que ali estava. A música tocada no aparelho de som era samba. Acredito ter ouvido "não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar..." umas oito vezes. O que mais me irritava, além do volume da música, era a voz de uma mulher. Devia ter em torno de 50 anos; provavelmente fumante; solteira ou descasada com toda a certeza, pois não há homem nesse mundo que consiga viver com aquela voz no ouvido. Eu que não acredito em inferno, gostaria que houvesse um especial só para acolhê-la. Neste inferno eu desejaria que ela estivesse sozinha e seu castigo seria ouvir eternamente a própria voz em gargalhadas como as que ouvi durante toda a noite. Bem, seis da manhã ouço a "santa" dizer pra outra que estava ao seu lado: "não vai não, já vai amanhecer!" Consegui dormir. Acordo, vejo minha corrida e, para meu desespero, a música recomeça. Reclamo com uma mulher que aparece ali no portão. Ela diz que avisou a vizinhança sobre a festa. E daí? Mas estava longe de acabar o sequestro. Agora, enquanto escrevo, ouço a risada da tal mulher, mas a música parou. Mas só agora, dez e cinquenta e nove da noite de domingo. Tudo indica que poderemos dormir em paz. Mas fico me perguntando por que será que precisamos ser invadidos tão descaradamente pelo desejo dos outros? Isso me lembra uma vizinha que tivemos: seus filhos gritavam o dia inteiro e ela, quando reclamávamos, dizia que eles precisavam aprender a lidar com suas frustrações. Ela esquecia que, enquanto eles lidavam com suas frustrações, nós pagávamos o pato.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

JOÃO MARCELLO BÔSCOLI SOBRE ELIS

Gosto do que João Marcello Bôscoli escreve. No último final de semana escreveu sobre sua mãe, Elis Regina. Falando sobre Elis, ele consegue traçar um perfil de como deveriam ser os artistas com A. Sigam com ele.

terça-feira, 6 de julho de 2010

PAPINHA PARA QUEM PRECISA

Tenho ouvido e lido comentários de alguns colegas do meio lírico que dizem que esse nosso país não respeita os bons artistas. Fato. Imagino que em todas as áreas da arte haja intolerância para com aqueles que fazem diferença/diferente. Gosto de citar o meu espanto ao assistir um vídeo dos bastidores de gravação de um cd com cantores populares bem famosos. Estavam todos ali, sentados, acomodados como se estivessem em suas casas (estivessem no banheiro seria igual), aprendendo a música de última hora, resolvendo quem faria o quê. Tive a curiosidade de ver o tal vídeo, pois sua música principal fez um sucesso estrondoso e instantâneo. Digo que, aos meus ouvidos, a música era (e é) uma merda. A melodia poderia ser feita por um imbecíl; a letra, de um "romantismo" infantil; os intérpretes... bem, esses pareciam estar em alfa, com voz nenhuma, sussurrando aquele absurdo. Na minha opinião, nosso país - falo do Brasil, mas esse é um fenômeno mundial - desaprendeu a pensar, a receber algo consistente e mastigar, mastigar; estamos no tempo da papinha. Quanto mais fácil for, melhor. O resultado é que para fazer músicas para pessoas medíocres precisa-se, apenas, de um compositor medíocre, de intérpretes medíocres. Letra... pra quê? É só colocar algo sobre o amor, mesmo que esse "amor" seja apenas uma bela palavra pra "sexo", e pronto: "Ah, a música é linda, a mais linda que já foi feita!!!" Até vir outra pior, claro. Por essa e outras razões os artistas não têm vez. Artista demora pra ser feito. Artista, quanto mais velho, melhor. A matéria prima do artista é a sua vida. A arte fala da vida a partir da vivência pessoal do artista. Esse tipo de gente, o artista, incomoda. E, no Brasil, incomodar é proibido. Quem incomoda é posto de lado. Me lembro de ter lido que o tenor Beniamino Gigli, no auge de sua carreira, foi questionado por uma criança sobre quanto tempo um cantor deveria estudar para cantar como ele. Gigli disse: "Eu acabei de estudar faz cinco minutos." É isso.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

JUAN PONS

Esteve por aqui o barítono espanhol Juan Pons. Apresentou-se no Teatro São Pedro acompanhado ao piano por sua filha Joana. Com sua grande experiência - algo em torno de 40 anos de carreira -, Pons deixou os amantes da lírica felizes. Assisti apenas à segunda parte do recital, que foi de canções italianas e árias de óperas. Lindo recital! A voz é bela mas isso não diz tudo. Juan Pons faz poesia. Posso dizer que foi um espetáculo mágico. Além da apresentação fez três masterclasses com cantores daqui. Tive o privilégio de participar. Ouvimos bons conselhos. Além da experiência, Pons demonstrou grande interesse e generosidade. Sua figura me lembrou de meu maestro na Italia, o saudoso Pier-Miranda Ferraro. Falei sobre isso com o sr. Pons que me disse ter sido, além de vizinho, um bom amigo de Ferraro. Fiquei feliz ao constatar que a semelhança, de certa forma, não era mera coincidência. Bravi, Juan e Joana Pons, e obrigado por tudo o que aqui deixaram.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

IBERÊ CAMARGO: ORIGEM E DESTINO

Acabo de ler o livro Iberê Camargo: Origem e Destino, da CosacNaify. Desde o primeiro contato que tive com sua obra, Iberê Camargo despertou meu interesse. Gaúcho de Restinga Seca, resolveu ser pintor. Durante toda a vida foi fiel a seus pensamentos e sentimentos artísticos. Não é a toa que seu trabalho dispensa assinatura. O livro, escrito de forma simples e envolvente por Vera Beatriz Siqueira, é uma pequena biografia do pintor e seu trabalho, não se detendo em detalhes de sua vida que não sejam relacionados à pintura.

sábado, 29 de maio de 2010

"A MORTE DA VOZ HUMANA"

Este é o título do artigo publicado no Estadão de hoje, 29 de maio, no Caderno C2+música, por João Marcelo Bôscoli, aqui. Ele fala de softwares como o auto-tune. Esses programas, criados nos anos 1990, garantem ao suposto cantor e suposto artista, a afinação adequada das músicas interpretadas. Assim como o photoshop, corrigem as imperfeições das vozes dos ditos cantores. João Marcelo fala do uso desenfreado desse recurso como a "falência da meritocracia". Concordo com ele e vou um pouco mais além. O fim, não da voz humana, mas da capacidade de enfrentar as dificuldades, de vencer as barreiras técnicas impostas pela arte de cantar é visível desde muito. Não apenas no canto mas nas artes de um modo geral. Estamos no tempo da mastigação fácil. Não só a feitura da arte, ou melhor, da dita arte precisa ser imediata, como também, sua assimilação, instantânea. É comum receber alunos que "precisam aprender a cantar pra gravar um cd na próxima semana". Já ouvi de um maestro, que eu não precisaria me preocupar com as questões técnicas de determinado cantor pois "o microfone daria o jeito necessário". Onde é que estamos? Como resultado, temos inúmeros "artistas" que nascem e, graças a Deus, morrem assim como nasceram, instantaneamente. Outros, com o apoio da grande mescenas de nosso tempo, a mídia, sobrevivem e ajudam nosso povo a ser mais alienado. Salvo raros e honrados artistas, a maioria, quando em shows "ao vivo", aproveitam-se de outro recurso eletrônico chamado playback, que os dispensa de cantar. E assim vamos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

PRICASSO - ISSO MESMO!

Este senhor que pinta com seu pênis e seu rabo é Tim Patch. Chamado, por alguns, de "artista" não só tem fama, como também concorreu recentemente ao principal prêmio da Austrália, Archibald Prize.

terça-feira, 25 de maio de 2010

LIVRO - A GRANDE FEIRA, de LUCIANO TRIGO

Tenho lido A Grande Feira com grande interesse. Luciano Trigo descreve com muita propriedade os porões do mercado da arte. Ele cita, por exemplo, o "artista" Damien Hirst que colocou num aquário um tubarão mergulhado em formol. Essa "obra de arte" foi vendida por milhões de dólares e, não muito tempo depois, o peixinho precisou ser substituído por estar se decompondo. Outra passagem bem curiosa de Hirst eu trancrevo: "Sobre as telas que assina, Hirst já declarou que são pintadas por assistentes: 'Não estou a fim de me preocupar com isso. A pessoa que melhor tem pintado pra mim é a Rachel. Ela é brilhante. O melhor quadro meu que você pode ter é um quadro pintado pela Rachel.'" (pág.89). Que vergonha! Talvez o fato mais curioso seja o de que um diálogo aberto sobre esse assunto não aconteça no Brasil. Parece um tabu. Não se fala. Cala-se a respeito. Me pergunto: e o artista de verdade? aquele cara que vaza pelo seu trabalho, que não consegue ser se não for pela pintura, pela música...? Onde é que estamos? "é arte aquilo que o artista diz que é... é artista aquele que o sistema aponta como artista." (pág.89).

segunda-feira, 17 de maio de 2010

MARCELO GRECO NO CONTRAPONTO

Acabo de voltar de um delicioso bate-papo no Contraponto. Pra quem não conhece, trata-se de um espaço de interlocução sobre arte, psicanálise e filosofia. No momento o Contraponto acolhe a experiência fotográfica de Marcelo Greco. Como é de costume, durante o período da exposição faz-se um bate-papo sobre o trabalho exposto, sua criação e muitos outros fatores que participam do processo de cada artista. Marcelo Greco é um artista que cresceu vendo pinturas sendo feitas por pintores da própria família. Conviveu de uma forma particular, pelo que me pareceu, com a obra de Vermeer que era reproduzida por sua avó. No centro da conversa estavam Simonetta Persichetti, Sergio Fingermann e Greco. Um público de aproximadamente 60 pessoas. A unanimidade foi o quanto a arte está sendo colocada de escanteio em prol de uma multiplicidade de estímulos. Apela-se tremendamente para o espetáculo e não se favorece o silêncio da contemplação. Não se pode fruir a obra de arte em meio a tantos estímulos visuais e, muitas vezes, de outras ordens. Como frisa Sergio Fingermann, hoje andamos em grande velocidade pela estrada e não vemos a paisagem; para vê-la é necessário parar no acostamento, não correr, parar, parar para ver. Creio que essa metáfora se aplica a todas as artes e a toda a vida louca que levamos hoje. Particularmente, o trabalho de Marcelo Greco é tocante. A exposição está no Contraponto - Rua Medeiros de Albuquerque, 55. Maiores informações: contato@contraponto55.ato.br

domingo, 16 de maio de 2010

O REI E EU

Estivemos ontem no Teatro Alfa assistindo ao espetáculo musical O REI E EU. A história é muito conhecida, agradável e politicamente correta. A música é boa. A orquestra muito correta, apesar do achatamento causado pela amplificação. Os cantores... Foi exatamente isso que mais me encantou. Havia ali uma verdadeira "arca de Noé" em se tratando de técnicas diversas. Cantores sem qualquer impostação, cantores com formação lírica e, ainda, cantores Belting, que é a técnica utilizada em musicais. Ambas conviveram muitíssimo bem. Claro que se distinguia perfeitamente cada uma delas, fato que apenas somou. Dos protagonistas posso dizer que encantaram. Tuca Andrada, o Rei, Claudia Netto, Anna e Luciana Bueno, Lady Thiang, estiveram muito bem. Falo particularmente da minha querida amiga Luciana Bueno (fotos), uma das grandes cantoras líricas desse país. Luciana é uma artista generosa. Não se poupa em nada, nunca. Está ali inteira, corpo e alma. Voz linda, marcante, personagem consistente e carismática. Foi uma bela noite!

domingo, 9 de maio de 2010

VISITA AO MUSEU

Estive ontem no MASP - Museu de Arte de São Paulo. Vi trabalhos dos mais diversos períodos e artistas. Apesar de todos os problemas administrativos deste museu é inegável que seu acervo é importante e lindo. Alguns quadros me chamaram a atenção pela vida que transmitem: Constable - vista da Catedral de Salisbury; e Cezanne - O Grande Pinheiro e Madame Cezanne. Esses quadros parecem acenar para os visitantes, tamanho movimento, beleza e vida! Sim, há muitos outros trabalhos ali e belíssimos: Picasso, Renoir, van Gogh, Manet, Monet... e tantos outros, mas eu fui fiquei aprisionado pelos que mencionei. Como isso se explica? As imagens seguem abaixo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

ANDREA MATARAZZO

Andrea Matarazzo assume a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Um homem que faz e que respeita. Deixo aqui um forte abraço e desejo de muito sucesso!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

TOSCA, Ato III

Tanto a segunda parte do primeiro ato quanto este terceiro ato, foram copiados da wikipedia. O dia amanhece em Roma. Do terraço do Castelo de Sant'Angelo vislumbra-se à luz cinzenta e vermelho-escura da manhã o Vaticano e a Basílica de São Pedro. A hora da execução se aproxima. Um carcereiro chega à cela de Cavaradossi e pergunta se ele quer ver um padre. O revolucionário esquerdista voltairiano responde que não. Ele tem, contudo, um último desejo: quer deixar uma última mensagem para uma pessoa amada. Em troca, oferece ao carcereiro seu anel, única coisa que lhe resta. Chegou a hora de E lucevan le stelle, hora em que as palavras perdem o seu poder de expressão. Suas últimas imagens do mundo, seus momentos felizes ao lado de Tosca. Tosca chega correndo com um papel na mão, acompanhada de um sargento que abre a porta da cela. Abraçam-se, beijam-se, o dueto de amor que se segue é cheio de alegria. Ela conta como deu morte a Scarpia. O dolci mani, ó doces mãozinhas, capazes de matar. Tosca lhe explica, contudo, que ele deve passar por um último ritual antes de escapar daquele inferno: a execução simulada. Sendo, como é, uma artista de teatro, ela sabe todos os truques cênicos, inclusive como cair sem se machucar. Instrui a ele para que não se levante enquanto ela não chamar. O carcereiro chega com os guardas e dizem a ele que está na hora. "Estou pronto," diz Mario. Os preparativos parecem levar uma eternidade, o nervosismo se apossa de Tosca; este é o último ato, a última coisa a fazer antes que possam escapar desse inferno. Mario é posto contra a parede. Atiram, ele cai. Vista de longe, a cena parece perfeita. "Como é lindo o meu Mario," ela exclama. "Que artista!" Os guardas vão embora, e ela se aproxima de Mario. Ao ver que ele está morto, solta um grito. O assassinato de Scarpia foi descoberto, correm atrás dela. Montada no parapeito do terraço, ela exclama: "Perante Deus, Scarpia!" e salta para a morte.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

TOSCA, Ato II

Uma das coisas que mais me impressiona neste ato de Tosca, além da beleza, é a extrema violência. Uma violência exercida em forma de chantagem, cheia de ironia. A moeda de troca pela vida de Cavaradossi é o corpo de Tosca, "por apenas alguns instantes". Scarpia desfia o seu veneno de forma magistral. Ele diz, por ex. : "Há um sabor muito mais forte a conquista violenta do que o melífluo consentimento." "Deus criou diversas belezas e vinhos diversos e eu vou saborear o quanto puder da obra divina..." Um homem totalmente inescrupuloso e um personagem maravilhoso. Tosca, mulher madura, livre, cheia de vida, artista é o grande desejo de Scarpia. Neste ato, ao abrir a cortina vemos o interior dos aposentos de Scarpia. Ele está jantando e aguardando o início da apresentação de Tosca. Chegam seus capangas com o pintor Cavaradossi, preso para interrogatório. Mario nega as acusações de Scarpia. Nisso surge Tosca que foi chamada por Scarpia. Ela se surpreende ao ver ali seu amado. Mario diz a ela para guardar segredo de tudo o que sabe a respeito do prisioneiro fugitivo. Mario é preso e Tosca, impedida de sair dos aposentos do chefe de polícia. Scarpia começa um interrogatório sedutor e Tosca vai se saindo muito bem, até que ele apela para os ciúmes. Tosca se descontrola e tem início um tour de force cheio de beleza e força brutal, onde são exigidos dos cantores as víceras! Tosca percebe que Mario está sendo torturado. Ouvindo seus gritos ela não suporta mais e diz que Angelotti, o prisioneiro, está escondido no poço do jardim da casa de Mario. Cessa a tortura. Trazem Mario praticamente desmaiado e o largam perto de Tosca. A única preocupação de Cavaradossi é saber se Tosca contou o segredo e ela diz: "no, amore, no". Scarpia, maldito, vira-se para o capanga e diz: "no poço do jardim, vá!" Mario junta o resto de força que lhe resta e se diz traído por Tosca. Nisso entram funcionários de Scarpia dizendo que Bonaparte venceu. Cavaradossi canta, então, "Vitória!!!" Curioso que este é um momento bastante esperado pelos amantes da ópera, pois o tenor enfrenta uma nota bem aguda sem qualquer intervenção por parte da orquestra ou outro solista; nos anos de ouro da ópera, os tenores ficavam o maior tempo possível sustentando esse agudo; a plateia, claro, vinha abaixo! Levam Mario para o cárcere e Tosca e Scarpia ficam sós. Aí então ele propõe a troca do prisioneiro por instantes de amor com ele. Tosca ameaça pedir clemência a Rainha. Ele diz: "Vá... a Rainha fará um favor a um cadáver... Como vc me odeia." E ela : "Oh, Deus", já despedaçada. "É assim que eu te quero!" grita Scarpia cheio de desejo. Soam os tambores. Eles param e Scarpia lembra a Tosca que a Mario não resta mais que uma hora de vida. Começa, então, a grande aria da soprano: Vissi d' arte. Tosca diz que sempre viveu da arte e do amor; nunca fez mal a nenhuma criatura. Sempre com fé sincera elevou a Deus suas preces e agora, nessa hora de dor, por que Deus a trata desse modo? Acaba a aria e Scarpia pergunta: "E aí?" Ela sede mas pede um salvo conduto para poder fugir com Mario. Scarpia começa a escrever o documento e ela se dirige à mesa onde ele jantava. Pega uma taça de vinho ao devolve-la à mesa, vê uma faca. Scarpia vem vindo. Ela pega a faca. Ele diz: "Tosca, finalmente minha!!!" e leva uma estocada no peito e outra. Tosca diz: " este é o beijo de Tosca" Scarpia morre. Tremendo, ela ainda pega os candelabros e os coloca em torno do defunto. Está pra sair e se lembra do salvo conduto. Está preso nas mãos de Scarpia. Ela puxa e o guarda. Olha mais uma vez pra Scarpia e diz: " era na frente dele que toda Roma tremia!" Abaixo a cena final do 2ºato com Maria Callas e Tito Gobbi.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

TOSCA, Ato I, 2ª parte

O sacristão entra na igreja com um bando de padres, coroinhas e membros do coro, fazendo algazarra e em grande alegria: parece que Napoleão foi derrotado. Vai haver uma grande festa esta noite, com fogos de artifício e uma cantata no Palazzo Farnese com Floria Tosca. Chega Scarpia, acompanhado de Spoletta e vários policiais. Interroga o sacristão: "Um prisioneiro de estado acaba de fugir do Castelo de Sant'Angelo. Está escondido aqui?" Neste instante, Tosca entra na igreja para avisar Cavaradossi que não poderá estar com ele esta noite devido ao espetáculo no Palazzo Farnese. Enquanto seus homens revistam a igreja, Scarpia dirige-se a Tosca. "Permita-me cumprimentá-la, madame, eu sou seu admirador," diz ele, beijando a mão da famosa diva. "Admiro suas virtudes. São raras as cantoras de ópera que vêm à igreja rezar. Pelo menos a Senhora não faz como certas damas, que entram na igreja para namorar pintores," diz ele, apontando para o retrato da Attavanti. "O que está dizendo?" indaga Tosca, atônita. "Tem provas?" "Por acaso isto é apetrecho de pintor?" diz Scarpia, mostrando a ela o leque com a insígnia da Marquesa Attavanti que encontrou no chão. Num instante, Tosca imagina a cena toda: Mario e a Attavanti se beijando, ela entra na igreja, a Attavanti foge, deixando cair o leque. Corroída de ciúmes, ela sai rapidamente da igreja, que começa a se encher de fiéis, bispos, padres, e um cardeal, para ouvirem um Te Deum que será cantado para celebrar a vitória contra Napoleão. Scarpia ordena a seus homens que a sigam.

terça-feira, 13 de abril de 2010

TOSCA, Ato I, 1ª parte

Interior da Igreja Sant' Andrea della Valle. Após os primeiros acordes da orquestra, abre-se a cortina. Música agitada. Entra Angelotti, prisioneiro político, fugitivo. De combinação com sua irmã, Attavanti, encontra a chave da capela da família. Esconde-se ao perceber a entrada do Sacristão, personagem praticamente comico e um pouco caricato. Reclamando de seus afazeres, o sacristão é surpreendido com a entrada de Mario Cavaradossi, tenor. Cavaradossi é pintor e está na igreja realizando um novo trabalho. O sacristão lhe oferece uma cesta com comida e vinho. Mario não aceita e começa a trabalhar. Tem início a famosa aria Recondita Armonia. Nesta aria, Mario faz algumas comparações entre sua pintura e Tosca. Termina dizendo que seu único pensamento é para a amada. Aplausos! Cavaradossi ouve barulhos e descobre que seu amigo, Angelotti, está ali. De repente ouve-se: "Mario!" É Tosca querendo entrar para ver o pintor. Cavaradossi entrega a Angelotti a cesta de comida deixada pelo sacristão e pede a ele que se esconda e deixe-o dispensar a amante. Indócil e tremendamente ciumenta, Tosca, soprano, entra pela nave procurando uma imaginária rival. Mario, sedutor, consegue acalmá-la até que Tosca reconhece na pintura de Cavaradossi, a figura da marquesa Attavanti. Outra cena de ciúmes! Mais uma vez e a bordo de uma das mais belas melodias de Puccini, Mario canta: que olhos, nesse mundo, podem ser comparados aos seus? Claro, Tosca se derrete. Enfim, após esse belo dueto, Mario consegue voltar sua atenção ao amigo Angelotti. No rápido diálogo, Mario ouve o nome de Scarpia. Este, temido chefe de polícia a quem todos temem, está no encalço de Angelotti. Soa o canhão do castelo! Descobriram a fuga do prisioneiro. A igreja não é mais segura. Angelotti pega roupas deixadas por sua irmã e deixa cair o leque com o emblema da família. Partem.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

TOSCA

Pra começar, indico duas excelentes gravações: o cd, com Renata Scotto, Placido Domingo, Renato Bruson e James Levine, é uma gravação vigorosa e cheia de poesia; o DVD é um registro maravilhoso da bela produção do Metropolitan Opera House. Cenários, figurinos e direção de cena de Franco Zefirelli. Imperdível. A regência precisa do maestro Giuseppe Sinopoli, dá o tom majestoso e cheio de nuances. Cornell MacNeill, grande intérprete do Barão Scarpia. A Tosca de Hildegard Behrens tem tudo o que é necessário à personagem. Há ainda o vídeo do segundo ato com Maria Callas. Esse é indispensável. A boa notícia é que esses registros são encontrados no youtube e eu devo postar alguns belos momentos nos próximos dias.

TOSCA, de Giacomo Puccini

A ópera TOSCA de Giacomo Puccini, estreará no Teatro São Pedro, na cidade de São Paulo, no dia 29 deste mês de abril. Trata-se de uma das mais belas óperas, uma história de amor e morte. É a minha ópera favorita, embora não possa cantá-la. Durante os próximos dias até sua estreia vou postar vários comentários, tentando contar a história e situar os amigos interessados. Tosca, de Giacomo Puccini Regência: Ligia Amadio Direção Cênica: Fernando Bicudo Apresentações: 29 de abril e 02, 04, 06 e 08 de maio

quarta-feira, 31 de março de 2010

O FIM DA MÚSICA

No jornal O Estado de São Paulo de 27 de fevereiro de 2009, Nelson Motta escreveu um belo artigo intitulado “O fim da música”. Em poucas linhas ele diz que a música, mesmo antes do advento da internet, se esgotou. Diz que no exato minuto em que escrevo, milhares de músicas estão sendo jogadas na internet, criadas por qualquer pessoa, músico ou não; diz também que apenas uma pequeníssima porcentagem pode ser chamada de música. Fala dos grandes momentos musicais, especificamente dos vocais, óperas, musicais, a boa mpb... Quanto ao funck, diz que nada pode ser inventado de menos musical, pois este já não tem mais melodia e nem harmonia. Difícil não concordar. Eu apenas chamaria a atenção para o momento particular em que vivemos, em que nossa cultura se vai como grãos de areia aparados por uma mão aberta. A música tornou-se, com o passar dos anos, produção. É preciso produzir música. É preciso produzir música que o povo goste. Falando especificamente do povo brasileiro, é preciso compor músicas que nosso povo ignorante goste; que faça com que nosso povo ignorante se divirta e se divirta sem pensar. A “música” tem que entrar e pronto. Pelo que entendo, arte e diversão não são sinônimos. Arte sempre foi o retrato da civilização, da cultura, do pensamento. Seria bobo pensar em Bach, Mozart, Beethoven? Creio que não. Como também não é bobo pensar em Jobim. Esses mestres pensaram a música como a construção de um universo em si; colocaram ali sua visão particular de mundo, do mundo que os cercava. Por que razão continuam atuais? Por que, apesar da distância que nos separa, a música dos grandes compositores do barroco, do classicismo, do romantismo e de tantos outros “ismos”, ainda nos toca? Tive a oportunidade de ver alguns estudos com pacientes de vários tipos e níveis de patologias, mostrando o quanto a boa música os auxilia nos tratamentos de suas doenças. Li que este tipo de música ajuda os pacientes a ordenarem melhor seus pensamentos, a construirem uma real possibilidade de cura. Obviamente não estou dizendo que música é capaz de curar, por exemplo, o Alzheimer, mas há melhora inquestionável em tais quadros. O excesso de “produtos”, os novos “artistas” fabricados instantaneamente pela mídia, e seu conteúdo pobre e podre deveria nos fazer pensar por que não existe mais, ou melhor, por que a escassa música de qualidade não chega até nós. Por que nos tornamos reféns de “tapinhas” de amor que não doem? Onde estão os Artistas? Se eles existem, por que não lhes é dado espaço? Por que artista hoje em dia tem que ter peitos, bunda, ser sarado, ter nome de frutas... ser BBB? Se estamos aprisionados por tudo isso, alguma coisa fizemos. Atrevo-me a dizer que paramos de pensar. Isso na música e, creio, em todas as artes. Poderíamos ser melhores, não!

quarta-feira, 24 de março de 2010

!!!

Mais um dia! Chego, sento, olho. A tela ali. Muda e cínica, me olha com olhar plácido, quase languido. Que maldades fará comigo hoje?

segunda-feira, 22 de março de 2010

FRANCO CORELLI

Franco Corelli nasceu na cidade de Ancona em 1921. Iniciou sua carreira no final dos anos 40 e teve seu auge nos anos 1960. O que dizer de Corelli? Bem, ele é o meu tenor favorito. Sua voz sempre me emocionou, não apenas pela beleza e potência inegáveis, mas pela emoção e doçura expressas em cada nota. Era um homem bello. As mulheres o amavam independentemente do que e de como cantava. Contam que, em viagens, Corelli precisava ficar com um andar de hotel só para si; isso por causa das mocinhas que teimavam em se esconder em seus aposentos. Apesar da voz beijada por Deus e da beleza física, Corelli sofria de um mal inconveniente: pânico do palco. No vídeo que escolhi é possível vê-lo se postando no palco com uma feição de alívio. Ch' ella mi creda, a aria escolhida, aparece já no meio do concerto, e só ali, Corelli, mesmo tendo sido aplaudido entusiasticamente nas arias anteriores, consegue relaxar. Graças a um dos seus cancelamentos, Placido Domingo estreou no MET. Estando em Milão, onde Corelli morava, encontrei seu nome na lista telefônica. Liguei. Ele atendeu. Eu disse quem eu era e pedi uma aula. Ele marcou para o domingo seguinte. Fui até lá e conheci aquele homem. Uma emoção ímpar. Corelli me ouviu. Me ensinou algumas coisas. Mas, acima de tudo, colocou pra fora uma dor enorme ao falar de Mario del Monaco. Falava com a voz embargada, voz de quem sentiu tremendamente a perda do colega e amigo, e com a dor de quem se sabia o próximo. Poucos anos depois morria o grande Corelli.

domingo, 21 de março de 2010

NEOJIBÁ

Li ontem, no novo e belo caderno de música do jornal O Estado de São Paulo, uma matéria sobre o Neojibá. Trata-se de um projeto socio-cultural idealizado pelo pianista e maestro Ricardo Castro, na Bahia. Esse projeto visa a criação de orquestras e coros juvenis e infantis em todo o estado. Dele participam músicos expoentes de todo o Brasil e alguns do exterior. Uma iniciativa desse porte merece todo o apoio e atenção, visto que pela arte é possível promover mudanças importantes em nossa sociedade. Ver jovens curtindo tocar Beethoven é lindo; além do que, joga por terra a ideia de que o brasileiro não gosta de música erudita. O site do projeto é www.neojiba.org

quarta-feira, 17 de março de 2010

RESSONÂNCIA

Ressonância é uma palavra que tem feito parte dos meus dias. No canto lírico, espaço das metáforas e fantasias, é usada para designar o melhor lugar da voz, onde a voz é em sua plenitude. A voz, esse ser estranho que nos habita, se utiliza de todo o corpo para ressoar. É isso o que buscamos: nossas caixas de som, onde a voz é naturalmente amplificada. Tenho aprendido que as cores também têm ressonância; são como que acordes musicais que encontram seu espaço e podem conviver em plena harmonia e expansão. Ah, essa pintura é de Samson Flexor!

sábado, 6 de março de 2010

Paulo Szot

O sonho de qualquer cantor lírico é se apresentar no palco do Met (Metropolitan Opera House, NY). Paulo Szot, barítono, brasileiro, conseguiu. Antes dele apenas, se não me engano, Bidu Sayão. Paulo apresentou-se várias e várias vezes nos nossos palcos, sempre com enorme sucesso e como uma unanimidade. Não conheço quem não goste de Paulo Szot. Todos os colegas se referem a ele com grande respeito e carinho. Os maetros, coisa rara, o adoram. Diretores de cena também. Antes de chegar ao Met, Paulo arrasou no musical South Pacific, na Brodway, o que lhe rendeu o Toni. Merece. Sucesso, Paulo!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

OUTRO HOMEM ESPECIAL

Lá pelos meus 20 anos, iniciando a carreira de cantor, preocupado com o futuro das artes no Brasil, tomei conhecimento de um homem que, foi, mesmo sem sabê-lo, importante na minha formação cultural: José Mindlin. Seu amor pelos livros; seu grande desejo de "inocular" o vírus do amor pela leitura; seu interesse pela cultura deste país, enfim, foram tantos os desejos e realizações de José Mindlin! Tive o grande prazer de vê-lo em algumas de minhas apresentações. Em uma delas ele me disse que havia sido um prazer me ouvir mas que também sentia por saber que eu iria para fora do país. Não fui. Outra vez, tomando um café e fazendo hora para ir ao lançamento do livro de um amigo, vejo-o entrar no Viena. Fomos, minha mulher e eu, até ele e nos sentamos juntos. Conversamos sobre o número de estrangeiros que são convidados, ano após ano, a se apresentarem em nosso país, tomando o lugar de artistas nacionais. Já com seus 90 anos, completamente lúcido, extremamente gentil, nos contou um pedacinho de sua história pela luta em prol de nossa cultura. Nós o ouvíamos falar com a tranquilidade e sabedoria que lhe eram peculiares. Um homem sábio. Apesar de não estar mais entre nós, seu José continuará sendo um exemplo e sua obra sempre estará presente, testemunhando que por aqui passou alguém que fez a diferença.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

AQUARELA

Em 2001 fui estudar em Milão e fazer uma série de apresentações em alguns países da Europa. Fiquei impressionado com toda a arte que vi e, mais impressionado ainda, com a minha ignorância. Voltei de lá com o desejo de conhecer arte para poder apreciar melhor. O modo mais interessante que encontrei foi colocando a mão na massa. Comecei a pintar e não parei mais. De lá pra cá aprendi algumas coisas. Várias delas têm o mesmo princípio que a arte do canto. Assim como cantar, pintar envolve muito mais coisas que simplesmente ter prazer. Sigo investigando.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

YOLANDA MOHALYI

De longe, profundidade. De perto, intimidade. Pedaços de afeto.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

SAIA JUSTA

No último sábado cantei em um evento aqui em São Paulo. Eu deveria cantar um repertório de canções napolitanas. Chuva, falta de luz... Cantei a luz de velas e as pessoas curtiram muito. Antes disso, porém, me deparei com uma situação até bastante comum: aguardávamos a vinda das pessoas de um outro salão e um encarregado que ali estava, pediu que fossemos fazendo um "sonzinho" pra chamar o público. O que, para uns, seria uma coisa absolutamente normal, para nós, músicos eruditos, não é. Em primeiro lugar, não improvisamos. Segundo, estudamos muito para que as pessoas usufruam da música, da arte que lhes oferecemos. Logo, som ambiente não é a nossa praia. As pessoas, claro, não sabem desses detalhes. O tal "faz um sonzinho aí" mexe um bocado com nosso ego. E mais: temos que dizer que não haverá "sonzinho". Daí somos grossos e metidos. Falei apenas a verdade: "nós não fazemos sonzinho".

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

(L) IMITAÇÃO NOSSA DE CADA DIA

Sandálias, cabelos, peitos e tantos outros acessórios são, todos os dias, copiados e re-mostrados por aqui e por ali. O que deveria ser uma opção pessoal, virou modismo. O que deveria ser natural, agora tem marca. Digo isso porque recebo algumas pessoas que querem cantar como a Amy Winehouse , como a Sandy e por aí vai. Depois de dizer pra pessoa que pra cantar como fulano ela deveria ter nascido como ele, as caras de decepção são inevitáveis. Que difícil ser vc mesmo! Engraçado mesmo é quando o que quer imitar outra pessoa, tem uma voz bem melhor - o que não é raro - que a pessoa invejada. Essa é uma situação constrangedora. Esse achatamento das possibilidades individuais e únicas do ser humano é um dos grandes males que sofremos. No caso da voz me parece algo gravíssimo, pois ela é única, como único é o seu proprietário. A voz é como uma impressão digital. Cada um tem a sua. Não dá pra imitar sem se perder. "Quero imitar fulano porque gosto da música que ele canta". Ok, mas pra isso vc pode cantar com sua própria voz. Não serve. Tem que ser igual a ele. E por aí vai. Porque o cantor objeto da imitação é famoso, faz sucesso, toca na novela, ele está certo, e a opinião do outro, no caso o professor, não conta. Como se não bastasse o desejo de imitar a voz, deseja-se imitar, também, a interpretação. Essa então é outra longa história. Eu ia encerrar dizendo que "nesses casos só rindo mesmo!", mas preferi dizer que é foda.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

UM HOMEM ESPECIAL

Saindo desse triângulo Carreras Domingo Pavarotti, gostaria de apresentar outros cantores por quem tenho grande apreço. Vou fazer isso em doses e sem ser em sequência. Hoje apresento o tenor italiano PIER-MIRANDA FERRARO. Nascido em 1924, Ferraro teve seu apogeo nos anos 1960/70. Atuou várias e várias vezes no La Scala e em outros importantes teatros europeus. Aqui no Brasil podemos encontrar facilmente uma de suas gravações: La Gioconda, com Maria Callas. Importante frisar que em 60/70 estavam em atividade outros dois monstros sagrados: Del Monaco e Franco Corelli. Ferraro ficou, assim, um pouco escondido pelo brilho dos colegas, mas não fica a dever nada a eles. Conheci Ferraro pessoalmente. Aliás, tive o privilégio e a honra de ser seu aluno. Ganhei a Bolsa Virtuose do Ministério da Cultura e fui aceito pelo maestro Ferraro. Nossos encontros se davam em seu estúdio na cidade de Milão. Aos poucos fui conhecendo aquele artista que optava sempre pelo modo mais limpo de interpretar e pela não complicação de algo tão abstrato como a voz. Afetuoso e generoso, Pier-Miranda sorria com os olhos de uma criança, um sorriso puro e limpo pra um homem que, naquela época, 2001, contava com seus 77 anos. Meus momentos favoritos eram aqueles em que ele demonstrava como eu deveria fazer determinada frase. Sua voz estava lá, impressionantemente intacta, potente, uma faca, como dizemos. No dia 18 de janeiro de 2008, após o almoço em família, Pier-Miranda foi fazer a sesta. Morreu dormindo. Deixa para mim e para tantos outros, a lembrança do homem/cantor que foi.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

LA BOHÈME

La Bohème, de Giacomo Puccini, é uma das minhas óperas favoritas. A primeira que ouvi. Meu pai me deu uma gravação (acima) que, mais tarde, vim a saber que é maravilhosa. Conheço bem a ópera, várias de suas gravações e vídeos, mas tive uma experiência muito bonita. Cantei La Bohème em forma de concerto. A música de Puccini é repleta de melodias, frases de beleza inigualável, texto pra lá de romantico. Estávamos, os cantores, no meio da orquestra, mais precisamente entre o maestro e as primeiras estantes das cordas. Desde os primeiros ensaios com a orquestra tive a impressão de pertencer, literalmente, à música. Uma sensação forte de ser, talvez, uma cor daquele quadro tão lindo e extenso. Acho que ali entendi que ser solista é apenas dar uma contribuição para algo muito maior; é colocar alguns tijolos numa construção.

sábado, 30 de janeiro de 2010

CARRERAS DOMINGO PAVAROTTI

Franco Zefirelli, em um documentário, deixou escapar que daria um braço para cantar um agudo de tenor em um grande teatro lotado. Algumas pessoas sabem bem o que ele quis dizer. Todas as vozes - sopranos, meio-sopranos, contraltos, tenores, barítonos e baixos - cantam grandes agudos. Cada um na sua tessitura. Todos são potentes, impactantes... mas, um agudo de tenor é algo que pega no âmago do ser (quando bem feito, claro!). Sabendo disso, vivendo isso dia-pós-dia, os tenores acabam sentindo-se seres... digamos... especiais. Uma piada recorrente no meio lírico, explica bem o que quero dizer: tenor não é voz, é patologia. Parece uma piada, mas o ego de um tenor só é menor que o de um maestro. Não se pode imaginar toda a parafernalha contratual que possibilitou o encontro desses três senhores. Naquela belíssima noite em Caracalla, no ano de 1990, estavam ali, naquele palco de sonhos, Carreras, Domingo e Pavarotti. Cada um cantou as árias que escolheu. Mas, e como junta-los num trio? Foi contratado o grande arranjador Lalo Schifrin, responsável pelo belo pout-pourri que, finalmente, juntava i tre divi! Eu nem consigo imaginar o que foi aquela noite!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PLACIDO DOMINGO

Tido como o mais completo tenor do final do século passado, Placido Domingo soube como poucos ser um artista por completo. O respeito que sempre demonstrou pela arte que o tornou conhecido em todo o planeta, é imenso. Um estudo profundo de cada personagem, não apenas musical, mas também emocional, histórico. Tive o prazer de assisti-lo no Metropolitan Opera House em Ny., no papel de Idomeneo, de Mozart. Dado como morto, Idomeneo retorna a Creta junto aos homens que sobreviveram. Esta foi a entrada de Placido: junto com vários outros homens flagelados, sem nenhuma roupa que o distinguisse, foi cuspido pelas ondas do mar; pouca luz, homens caídos no chão do palco e Placido Domingo se faz ver como que por uma aura. Carisma. Bicho de palco. Grande artista.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PAVAROTTI

Pavarotti é daqueles cantores que dispensam qualquer apresentação. Uma obra de arte. Auto-explicativo. Pavarotti abria a boca e o mundo parava. Ainda hoje, mesmo depois de sua morte, é assim. Seja na tv, no rádio... onde for, silêncio! Não tê-lo visto cantar é uma das grandes frustrações da minha vida. Com uma técnica impecável, interpretou praticamente todos os grandes papéis para tenor. Dizia que sua voz era mais apropriada para o bel-canto, mas seus personagens verdianos e puccinianos são irretocáveis. Não é à toa que a música que melhor o representa é justamente a de uma personagem de Puccini. Muitos críticos dizem que Calaf - personagem que canta a aria Nessun dorma - não é para a sua voz de tenor lírico, mas...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

JOSE CARRERAS

Contam que Carreras se apaixonou pelo canto ao assistir ao filme O Grande Caruso. Estudante de canto, foi ouvido casualmente por um agente de cantores que vislumbrou ali um grande talento. Logo em suas primeiras aparições profissionais, cantou ao lado de Montserrat Caballè. Jose Carreras, tenor lírico, voz bela e sensual, ideal para personagens como Rodolfo, da La Bohème de Puccini, Edgardo, da Lucia di Lammermoor de Donizetti e papeis com características semelhantes aos citados foi surpreendido no auge de sua carreira pela leucemia. Saiu vencedor. Andou por todo o mundo cantando em prol de sua fundação para a luta contra a leucemia. Voltou aos holofotes quando das apresentações dos três tenores. O trecho que escolhi é da ópera Turandot, de Giacomo Puccini. No início do terceiro ato, Calaf, correndo o risco de ser decapitado caso seu segredo seja descoberto pela princesa Turandot, diz que pela manhã, apenas pela manhã, revelará seu nome à princesa. "Vincerò, vincerò!!!!!" Essa aria tornou-se mundialmente conhecida na voz de Pavarotti. Nas próximas postagens incluirei gravações de Pavarotti e Domingo para uma comparação.

sábado, 23 de janeiro de 2010

OS TRÊS TENORES

Pavarotti, Domingo, Carreras... As pessoas sempre me perguntam quem é o melhor dos três. Questão de gosto. Cada um teve seu período glorioso. Placido Domingo teve, e ainda tem, uma carreira longeva; Pavarotti com aquela voz divina; o Carreras antes da leucemia era, provavelmente, não só a mais bela voz como também um grande músico. Pavarotti e Carreras faziam parte de um time de cantores mais preocupados com suas performances vocais mas, me pergunto, com aquelas vozes, pra quê se preocupar com outra coisa? Domingo, no decorrer dos anos, mostrou que tem uma técnica sólida, musicalidade excepcional e uma desenvoltura cênica invejáveis. Por essas razões, Placido se tornou não só o grande tenor que é, como também, o homem mais poderoso da ópera mundial.

domingo, 17 de janeiro de 2010

JANEIRO EM MANAUS

Acabo de voltar de uma feliz apresentação no Teatro Amazonas. Fui, a convite dos maestros Luiz Fernando Malheiro e Marcelo de Jesus, cantar a parte de tenor da Missa de Santa Cecília, do padre José Maurício Nunes Garcia. Malheiro regeu e meus colegas cantores foram: Cláudia Azevedo, Marconi Araújo e Felipe Oliveira. A música de José Maurício é um tour de force para as vozes solistas. Soprano, tenor e barítono são levados aos extremos de suas possibilidades vocais. Preciso dizer que todos fizemos boa figura. Janeiro em Manaus (foto) não é uma época de muito turismo. É inverno... temperatura na casa dos 30º. Cheguei a pensar que cantaríamos para as moscas, mas a surpresa ao ver o teatro absolutamente lotado foi grande. Lotado pelo povo de Manaus. Público acolhedor. Foi um belo trabalho.