"O som não permanece neste mundo; ele desaparece no silêncio."
Daniel Barenboim

quarta-feira, 31 de março de 2010

O FIM DA MÚSICA

No jornal O Estado de São Paulo de 27 de fevereiro de 2009, Nelson Motta escreveu um belo artigo intitulado “O fim da música”. Em poucas linhas ele diz que a música, mesmo antes do advento da internet, se esgotou. Diz que no exato minuto em que escrevo, milhares de músicas estão sendo jogadas na internet, criadas por qualquer pessoa, músico ou não; diz também que apenas uma pequeníssima porcentagem pode ser chamada de música. Fala dos grandes momentos musicais, especificamente dos vocais, óperas, musicais, a boa mpb... Quanto ao funck, diz que nada pode ser inventado de menos musical, pois este já não tem mais melodia e nem harmonia. Difícil não concordar. Eu apenas chamaria a atenção para o momento particular em que vivemos, em que nossa cultura se vai como grãos de areia aparados por uma mão aberta. A música tornou-se, com o passar dos anos, produção. É preciso produzir música. É preciso produzir música que o povo goste. Falando especificamente do povo brasileiro, é preciso compor músicas que nosso povo ignorante goste; que faça com que nosso povo ignorante se divirta e se divirta sem pensar. A “música” tem que entrar e pronto. Pelo que entendo, arte e diversão não são sinônimos. Arte sempre foi o retrato da civilização, da cultura, do pensamento. Seria bobo pensar em Bach, Mozart, Beethoven? Creio que não. Como também não é bobo pensar em Jobim. Esses mestres pensaram a música como a construção de um universo em si; colocaram ali sua visão particular de mundo, do mundo que os cercava. Por que razão continuam atuais? Por que, apesar da distância que nos separa, a música dos grandes compositores do barroco, do classicismo, do romantismo e de tantos outros “ismos”, ainda nos toca? Tive a oportunidade de ver alguns estudos com pacientes de vários tipos e níveis de patologias, mostrando o quanto a boa música os auxilia nos tratamentos de suas doenças. Li que este tipo de música ajuda os pacientes a ordenarem melhor seus pensamentos, a construirem uma real possibilidade de cura. Obviamente não estou dizendo que música é capaz de curar, por exemplo, o Alzheimer, mas há melhora inquestionável em tais quadros. O excesso de “produtos”, os novos “artistas” fabricados instantaneamente pela mídia, e seu conteúdo pobre e podre deveria nos fazer pensar por que não existe mais, ou melhor, por que a escassa música de qualidade não chega até nós. Por que nos tornamos reféns de “tapinhas” de amor que não doem? Onde estão os Artistas? Se eles existem, por que não lhes é dado espaço? Por que artista hoje em dia tem que ter peitos, bunda, ser sarado, ter nome de frutas... ser BBB? Se estamos aprisionados por tudo isso, alguma coisa fizemos. Atrevo-me a dizer que paramos de pensar. Isso na música e, creio, em todas as artes. Poderíamos ser melhores, não!

quarta-feira, 24 de março de 2010

!!!

Mais um dia! Chego, sento, olho. A tela ali. Muda e cínica, me olha com olhar plácido, quase languido. Que maldades fará comigo hoje?

segunda-feira, 22 de março de 2010

FRANCO CORELLI

Franco Corelli nasceu na cidade de Ancona em 1921. Iniciou sua carreira no final dos anos 40 e teve seu auge nos anos 1960. O que dizer de Corelli? Bem, ele é o meu tenor favorito. Sua voz sempre me emocionou, não apenas pela beleza e potência inegáveis, mas pela emoção e doçura expressas em cada nota. Era um homem bello. As mulheres o amavam independentemente do que e de como cantava. Contam que, em viagens, Corelli precisava ficar com um andar de hotel só para si; isso por causa das mocinhas que teimavam em se esconder em seus aposentos. Apesar da voz beijada por Deus e da beleza física, Corelli sofria de um mal inconveniente: pânico do palco. No vídeo que escolhi é possível vê-lo se postando no palco com uma feição de alívio. Ch' ella mi creda, a aria escolhida, aparece já no meio do concerto, e só ali, Corelli, mesmo tendo sido aplaudido entusiasticamente nas arias anteriores, consegue relaxar. Graças a um dos seus cancelamentos, Placido Domingo estreou no MET. Estando em Milão, onde Corelli morava, encontrei seu nome na lista telefônica. Liguei. Ele atendeu. Eu disse quem eu era e pedi uma aula. Ele marcou para o domingo seguinte. Fui até lá e conheci aquele homem. Uma emoção ímpar. Corelli me ouviu. Me ensinou algumas coisas. Mas, acima de tudo, colocou pra fora uma dor enorme ao falar de Mario del Monaco. Falava com a voz embargada, voz de quem sentiu tremendamente a perda do colega e amigo, e com a dor de quem se sabia o próximo. Poucos anos depois morria o grande Corelli.

domingo, 21 de março de 2010

NEOJIBÁ

Li ontem, no novo e belo caderno de música do jornal O Estado de São Paulo, uma matéria sobre o Neojibá. Trata-se de um projeto socio-cultural idealizado pelo pianista e maestro Ricardo Castro, na Bahia. Esse projeto visa a criação de orquestras e coros juvenis e infantis em todo o estado. Dele participam músicos expoentes de todo o Brasil e alguns do exterior. Uma iniciativa desse porte merece todo o apoio e atenção, visto que pela arte é possível promover mudanças importantes em nossa sociedade. Ver jovens curtindo tocar Beethoven é lindo; além do que, joga por terra a ideia de que o brasileiro não gosta de música erudita. O site do projeto é www.neojiba.org

quarta-feira, 17 de março de 2010

RESSONÂNCIA

Ressonância é uma palavra que tem feito parte dos meus dias. No canto lírico, espaço das metáforas e fantasias, é usada para designar o melhor lugar da voz, onde a voz é em sua plenitude. A voz, esse ser estranho que nos habita, se utiliza de todo o corpo para ressoar. É isso o que buscamos: nossas caixas de som, onde a voz é naturalmente amplificada. Tenho aprendido que as cores também têm ressonância; são como que acordes musicais que encontram seu espaço e podem conviver em plena harmonia e expansão. Ah, essa pintura é de Samson Flexor!

sábado, 6 de março de 2010

Paulo Szot

O sonho de qualquer cantor lírico é se apresentar no palco do Met (Metropolitan Opera House, NY). Paulo Szot, barítono, brasileiro, conseguiu. Antes dele apenas, se não me engano, Bidu Sayão. Paulo apresentou-se várias e várias vezes nos nossos palcos, sempre com enorme sucesso e como uma unanimidade. Não conheço quem não goste de Paulo Szot. Todos os colegas se referem a ele com grande respeito e carinho. Os maetros, coisa rara, o adoram. Diretores de cena também. Antes de chegar ao Met, Paulo arrasou no musical South Pacific, na Brodway, o que lhe rendeu o Toni. Merece. Sucesso, Paulo!