"O som não permanece neste mundo; ele desaparece no silêncio."
Daniel Barenboim

segunda-feira, 26 de abril de 2010

TOSCA, Ato II

Uma das coisas que mais me impressiona neste ato de Tosca, além da beleza, é a extrema violência. Uma violência exercida em forma de chantagem, cheia de ironia. A moeda de troca pela vida de Cavaradossi é o corpo de Tosca, "por apenas alguns instantes". Scarpia desfia o seu veneno de forma magistral. Ele diz, por ex. : "Há um sabor muito mais forte a conquista violenta do que o melífluo consentimento." "Deus criou diversas belezas e vinhos diversos e eu vou saborear o quanto puder da obra divina..." Um homem totalmente inescrupuloso e um personagem maravilhoso. Tosca, mulher madura, livre, cheia de vida, artista é o grande desejo de Scarpia. Neste ato, ao abrir a cortina vemos o interior dos aposentos de Scarpia. Ele está jantando e aguardando o início da apresentação de Tosca. Chegam seus capangas com o pintor Cavaradossi, preso para interrogatório. Mario nega as acusações de Scarpia. Nisso surge Tosca que foi chamada por Scarpia. Ela se surpreende ao ver ali seu amado. Mario diz a ela para guardar segredo de tudo o que sabe a respeito do prisioneiro fugitivo. Mario é preso e Tosca, impedida de sair dos aposentos do chefe de polícia. Scarpia começa um interrogatório sedutor e Tosca vai se saindo muito bem, até que ele apela para os ciúmes. Tosca se descontrola e tem início um tour de force cheio de beleza e força brutal, onde são exigidos dos cantores as víceras! Tosca percebe que Mario está sendo torturado. Ouvindo seus gritos ela não suporta mais e diz que Angelotti, o prisioneiro, está escondido no poço do jardim da casa de Mario. Cessa a tortura. Trazem Mario praticamente desmaiado e o largam perto de Tosca. A única preocupação de Cavaradossi é saber se Tosca contou o segredo e ela diz: "no, amore, no". Scarpia, maldito, vira-se para o capanga e diz: "no poço do jardim, vá!" Mario junta o resto de força que lhe resta e se diz traído por Tosca. Nisso entram funcionários de Scarpia dizendo que Bonaparte venceu. Cavaradossi canta, então, "Vitória!!!" Curioso que este é um momento bastante esperado pelos amantes da ópera, pois o tenor enfrenta uma nota bem aguda sem qualquer intervenção por parte da orquestra ou outro solista; nos anos de ouro da ópera, os tenores ficavam o maior tempo possível sustentando esse agudo; a plateia, claro, vinha abaixo! Levam Mario para o cárcere e Tosca e Scarpia ficam sós. Aí então ele propõe a troca do prisioneiro por instantes de amor com ele. Tosca ameaça pedir clemência a Rainha. Ele diz: "Vá... a Rainha fará um favor a um cadáver... Como vc me odeia." E ela : "Oh, Deus", já despedaçada. "É assim que eu te quero!" grita Scarpia cheio de desejo. Soam os tambores. Eles param e Scarpia lembra a Tosca que a Mario não resta mais que uma hora de vida. Começa, então, a grande aria da soprano: Vissi d' arte. Tosca diz que sempre viveu da arte e do amor; nunca fez mal a nenhuma criatura. Sempre com fé sincera elevou a Deus suas preces e agora, nessa hora de dor, por que Deus a trata desse modo? Acaba a aria e Scarpia pergunta: "E aí?" Ela sede mas pede um salvo conduto para poder fugir com Mario. Scarpia começa a escrever o documento e ela se dirige à mesa onde ele jantava. Pega uma taça de vinho ao devolve-la à mesa, vê uma faca. Scarpia vem vindo. Ela pega a faca. Ele diz: "Tosca, finalmente minha!!!" e leva uma estocada no peito e outra. Tosca diz: " este é o beijo de Tosca" Scarpia morre. Tremendo, ela ainda pega os candelabros e os coloca em torno do defunto. Está pra sair e se lembra do salvo conduto. Está preso nas mãos de Scarpia. Ela puxa e o guarda. Olha mais uma vez pra Scarpia e diz: " era na frente dele que toda Roma tremia!" Abaixo a cena final do 2ºato com Maria Callas e Tito Gobbi.

Um comentário:

Camila Flaborea disse...

Com todo o meu respeito e admiração pelas outras grandes Toscas que temos tido nos teatros do mundo, "nunca houve uma Tosca como Callas"